Thursday, May 17, 2007

AULA 9: AZNAR E A SUA COMUNICAÇÃO EM CRISE!

Comunicação de crise é tudo aquilo que se faz na sequência de uma situação adversa: o incêndio numa fábrica, o escândalo do candidato, o atentado bombista, a demissão do ministro, o produto estragado que mata várias pessoas…) a fim de posicionar a versão do protagonista atingido, garantir a sua intervenção nos meios e transmitir uma posição de abertura, transparência (uma vez que a sua posição está fragilizada e a atenção da opinião pública / meios de comunicação é muito maior).

Pior do que as consequências de uma crise são as consequências de não reagir à crise, ou seja, aumentar as suspeitas, críticas e rumores sem reagir, o que coloca em causa as relações de credibilidade e confiança entre empresas e clientes/fornecedores ou do político com a opinião pública. Todos os países estão vulneráveis a crises, mas alguns estão bem mais preparados para reagir principalmente do ponto de vista da comunicação, sabendo administrar melhor os problemas e estão preparados para enfrentar as “crises”. Outros permitem que os factos, ou boatos, destruam a boa reputação da empresa ou país. “A maioria das crises de imagem, se bem administrada, podem ser superadas com relativa facilidade. Mas de que modo deverá agir uma empresa em tempo de crise?

Um exemplo concreto de situação de crise é as eleições de 14 de Março de 2004, em Espanha. Umas eleições marcadas pela tragédia e que ressaltaram, mais que uma vitória de Zapatero e dos socialista, a derrota de Aznar e da sua maneira de fazer política que o levaram a perder aquilo que era certo ganhar, o poder espanhol!
Na manhã de quinta-feira de 11 de Março de 2004, dez mochilas com Trinitrotolueno (TNT) explodiram em quatro comboios em quatro pontos diferentes da região de Madrid.

As explosões ocorreram durante a hora de ponta, entre as 7:39 e as 7:42 da manhã nas estações madrilenas de Atocha (três bombas), El Pozo del Tio Raimundo (duas bombas), Santa Eugénia (uma bomba) e num comboio a caminho de Atocha (quatro bombas).

Os atentados causaram pelo menos 192 mortos e 2050 feridos. De imediato, o governo espanhol atribuiu a autoria dos delitos à ETA baseando-se na prova que os explosivos eram os mesmos que a organização terrorista espanhola usava. Mas, como no futuro se viria provar, a ETA não tinha capacidade logística para executar um atentado daquele género, e também elementos ligados à organização reagiram dizendo a uma televisão vasca: ”a organização ETA não tem nenhuma responsabilidade sobre os atentados de ontem”. Ao mesmo tempo, os analistas políticos encontraram características comuns a outros atentados levados a cabo pela Al Qaeda.

No dia dos incidentes, da parte da tarde, foi encontrada, na região de Madrid, uma fita com cassete de orações em árabe numa carrinha com detonadores. Tudo começava a encaixar-se para o ataque ter sido efectuado pela AL Qaeda e só o governo espanhol mantinha a tese que tinha sido a ETA.

Então, na noite anterior às eleições, milhares de pessoas reuniram-se em cidades de todo o país em frente a sedes do Partido Popular, do presidente do governo espanhol, José Maria Aznar, exigindo transparência nas investigações sobre os responsáveis pelos atentados. Os manifestantes disseram que o governo mentira quando apontou o grupo terrorista basco ETA como responsável pelo 11 de Março. A própria imprensa espanhola denunciou a tentativa frustrada de Aznar influenciar os jornais do país. O governo Aznar havia entrado na guerra do Iraque contra a vontade de mais de 90% da população espanhola, ao lado dos Estados Unidos e do Reino Unido, e o atentado poderia ser uma resposta a este posicionamento. Ou seja, se a culpabilidade fosse realmente da Al Qaeda quem beneficiaria seriam os socialistas do PSOE.

No dia das eleições, 14 de Março, houve um comparecimento massivo às urnas, mais de 75% da população foi votar, todos com o mesmo argumento perante a tragédia: é necessário oferecer uma resposta democrática. Assim, o conservador Partido Popular de José Maria Aznar sofreu com a mão pesada do povo espanhol por ter mentido acerca dos atentados e por ser um peão nas mãos do presidente George W. Bush, enquanto José Luís Rodríguez Zapatero ganhava as eleições num evento único na história política espanhola, isto devido à sua promessa de, em caso de vitória, retirar as tropas espanholas do terreno iraquiano.

E assim foi, o favorito Aznar até as 7h39m do dia 11 de Março, quando explodiram as primeiras bombas no comboio da Estação de Atocha, viu o partido PP entrar na onda de comoção e indignação nacional causada pelo massacre transformar-se numa enxurrada de votos para o seu rival Zapatero e os socialistas, que voltavam ao poder após oito anos afastados do Palácio de La Moncloa. Para os analistas políticos, o apoio do governo à invasão do Iraque pelos EUA em 2002 e a tentativa de enganar o povo espanhol atribuindo os atentados de 11 de Março à ETA foram os factores decisivos na derrota do PP.

Podemos concluir que nunca se deve colocar em causa a seriedade de um povo e, ao mesmo tempo, nunca tentar encobrir uma coisa que mais cedo ou mais tarde se vai constatar. No caso, José Maria Aznar deveria ter assumido o erro de início e não ter “tapado o buraco” com a mostragem de mais um habitual atentado da organização ETA. É óbvio que o Primeiro-Ministro do PP fez mal em optar por esta estratégia, pois além da derrota, ainda demonstrou descredibilidade perante os espanhóis.

Regra essencial da Comunicação de Crise: Nunca mentir, pois a verdade vem sempre ao de cima!”

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