Friday, May 25, 2007

AULA 20: CARRILHO SOB O SIGNO DA VERDADE

Manuel Maria Carrilho acusou alguns órgãos de Comunicação SociaL de exercerem um “poder opaco” e “impune”. Na apresentação do livro ‘Sob o Signo da Verdade’, o ex-candidato socialista à Câmara de Lisboa apontou o dedo à Imprensa, acusando-a de ter “substituído a verdade pela mentira intencional”.

"Fonte, facilitadora, parceira, intermediária. Assim se definem as empresas, mais conhecidas por agências, de comunicação que prestam, entre outros serviços, a tão falada assessoria mediática. Uma visão contrária à defendida por Manuel Maria Carrilho, que no seu livro Sob o Signo da Verdade acusa uma desta empresas - Cunha Vaz & Associados - de lhe ter oferecido os seus serviços, em que incluía a compra de jornalistas, aquando da sua corrida à presidência da Câmara de Lisboa. Carrilho não aponta nomes e, consequentemente, vê a sua acusação desvalorizada. Porém, a mesma caiu como uma bomba entre jornalistas e agências de comunicação, levantando uma série de questões: Que papel têm estas empresas que contactam todos os dias com os jornalistas? São "as novas” fontes? Influenciam os jornalistas a ponto de os comprar? Como é feita essa gestão de interesses contraditórios?"
O livro coloca então em causa jornalistas e agências de comunicação depois de António Cunha Vaz, presidente de uma empresa do ramo, argumentar que “tudo se compra”, expressão incitada por Emídio Rangel, da SIC, quando diz que: "há jornalistas que se "vendem e prostituem na praça pública' e que trabalham com avenças de agências de comunicação que tudo compram".


Sob o Signo da Verdade relata ainda inúmeros episódios em que certos jornalistas terão desvirtuado palavras e actos de Carrilho, ou interpretado erradamente as acções de campanha em que participou. Alguns destes casos relevam desonestidade intelectual, por exemplo o título em que lhe é imputada a afirmação de que "os jornalistas são débeis mentais" ou o comentário irónico da repórter da SIC sobre o filho do candidato, no dia das eleições. Certas críticas dirigem-se a manifestações de opinião de colunistas. Outras ainda respeitam à incapacidade de políticos e jornalistas se entenderem acerca da indecisa fronteira entre o público e o privado (mas esta não é uma maleita lusitana...).

No livro, reafirma que: "tudo é citado, mas não falo de uma cabala, não é uma conspiração, é sim um conjunto de factores”.… "A manipulação de comportamento existe. O Jornalista não controla o que escreve, tem repercussões; é necessário aumentar a responsabilização dos que fazem jornalismo. A auto-regulação é a mais desejável, mas não a mais aconselhável", prossegue.Para ele, existem quatro soluções: os Jornalistas passarem por um registo de interesses, o largamento do registo de comentadores e analistas de televisão, Rádios e Jornais, sancionar as más práticas jornalistas e as Agências de Comunicação Social serem regulamentadas (Código de conduta e sanções claras).

Mas será que os media decidem as eleições? (…) A vida política modificou-se, passando a figurar primeiro que políticos e eleitores, jornalistas, institutos de sondagens, conselheiros políticos (spin-doctors) e agências de comunicação.Os media não estão sozinhos, nem constituem o único elemento a influir no comportamento dos eleitores nem na política. Mostrar os limites dos media não equivale a negar a sua força, mas apenas a considerá-la variável, já que certas eleições foram ganhas contra os interesses hegemónicos na comunicação social (Berlusconi, em Itália, por exemplo), por isso dizer-se que "não é a imprensa quem decide o voto dos cidadãos”.

Sobre a publicação do livro do deputado Manuel Maria Carrilho Sob o Signo da Verdade, o Conselho Regulador anunciou ter inscrito entre as prioridades da sua acção de regulação as relações entre o campo jornalístico e o campo político e económico, nas suas diferentes vertentes, nomeadamente, as que se prendem com a independência dos jornalistas face às fontes de informação e a influência das agências de comunicação na informação publicada.As questões então suscitadas e o debate público que se lhe seguiu prendem-se com aspectos de fundo da regulação dos meios de comunicação social, alguns dos quais directamente ligados a atribuições estatutariamente cometidas à ERC, nomeadamente no art. 24º, n.º 3, al. q dos Estatutos da ERC – "proceder à identificação dos poderes de influência sobre a opinião pública, na perspectiva da defesa do pluralismo e da diversidade". Assim, após uma análise aprofundada dos factos invocados, o Conselho Regulador iniciou a fase de audições de pessoas e instituições consideradas relevantes para um melhor enquadramento das questões suscitadas.

José Carlos Abrantes, provedor do DN, também se manifesta sobre a credibilidade do jornalismo, proferindo que a mais importante será o poder das agências de comunicação. Diz que “os políticos são ostracizados pela comunicação social, se a mensagem destes é deformada e se estes têm ou não possibilidades de reagir a eventuais excessos ou "atropelos" cometidos pelos jornalistas.”
Cita ainda um leitor:“Lamento ter de o dizer, mas penso que a classe jornalística foi a mais responsável pela degenerescência e generalizada degradação ocorrida, mais ainda que a classe política. Foi, a meu ver, a mais culpada por ser a mais poderosa e omnipresente. São, as duas, os maiores agentes e instigadores da crescente perversidade que domina o país.”

É necessário então que a Entidade Reguladora da Comunicação Social faça uma investigação aprofundada sobre as relações das agências com media os jornais e os jornalistas. O jornalismo, para ser credível, precisa de voltar a ganhar autonomia e credibilidade, a sua matriz de nascença. Ou será que prefere ir, lentamente, cavando a sua própria sepultura? É esta problemática que vai aumentando a cada dia com os casos como o de Manuel Maria Carrilho e o seu Sob o Signo da Verdade e a falta de mais agências de comunicação intervenientes.
“É justamente para ajudar à transparência do sector que Luís Paixão Martins, director-geral da LPM, está a preparar um código de ética para a disciplina de assessoria mediática, na actividade em conselho e relações públicas.”

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