Wednesday, May 23, 2007

AULA 16: PARQUE DA CIDADE DO PORTO COMO UM PSEUDO-ACONTECIMENTO, SEGUNDO CUSTÓDIO OLIVEIRA

Os pseudo-acontecimentos baseiam-se em algo artificial, numa (falsa) realidade criada por alguém que tem aí o seu interesse. São o grau máximo de sofisticação que os protagonistas têm para que os jornalistas lhes prestem atenção. Há uma realidade construída onde os factos são inventados, não são reais; isto em função de criar notícias positivas com valor mediático.Tal como defende Estrela Serrano no livro “As Presidências Abertas de Mário Soares”: os pseudo-acontecimentos “não são espontâneos; surgem porque foram planeados sendo o seu sucesso medido pela amplitude da sua cobertura (...)”.


Um exemplo bem expressivo é o caso do Parque da Cidade do Porto.
No início da década de 90, a Câmara do Porto deparou-se com um grande alvoroço com a construção do Shooping Cidade do Porto (Bom Sucesso). “Existiam coisas pouco clara e transparentes”, tanto que até os jornalistas se riam numa conferência de Imprensa onde se falou na “licença de caboucos”.A enorme fragilidade da Câmara do Porto era não haver essa licença, o que violava o PAM.Fernando Gomes é então entrevistado na rua pelo jornal Público e diz não querer uma cidade verde mas sim uma cidade de cimento.

A polémica transforma-se assim em duas debilidades: “a cidade do cimento e a obra cuja licença não existia. Isto a um ano e meio das eleições”, continua Custódio Oliveira.

Entretanto, o candidato do PSD apercebeu-se da situação tirando o seu proveito, isto é, ‘ajudando’ no embargamento da obra.
Os jornalistas (com realce para o Público) falaram no assunto, mas o assessor de Fernando Gomes explica “traçamos a estratégia de resposta à lacuna do Bom Sucesso. Quase ninguém, na Câmara, sabia desta estratégia, apenas quatro pessoas”.

Os pseudo-acontecimentos, por vezes, ganham uma expressão tão elevada que os jornalistas são obrigados a noticiá-los, mesmo sabendo que não têm fundamento. Também Estrela Serrano, membro da novel Entidade Reguladora da Comunicação, evidencia que “Os pseudo-acontecimentos são, no fundo, uma espécie de falsa realidade construída por quem tem algum interesse nisso com o objectivo de tornar ‘obrigatória’ a publicação por parte dos jornalistas”.

Entretanto, a estratégia mudava. O Presidente da Câmara deixou de falar no assunto do momento e começou a mostrar mais interesse no contrário, em não compor a cidade de cimento, falando no Parque da Cidade e na auto-estrada que era suposto passar no meio do Parque. Houve então desvio de atenções, estratégia de comunicação.

O próprio assessor de imprensa do presidente da Câmara na altura clarifica “decide-se apostar forte no Parque da Cidade”, havendo mesmo reunião com arquitectos famosos, entre os quais Siza Vieira que ajudam no assunto. As decisões começam a aparecer: a avenida não passaria pelo meio do Parque e este não seria construído em frente ao mar devido à existência das muitas casa. Esta era já a Ideia do Verde, a ocupação do espaço mediático.

Ocupar o espaço mediático pressupõe ter importância, ter notoriedade e algo para dizer. É ter um discurso envolvido, ser ‘visível’… para poder cativar o jornalista! Isto porque o espaço mediático, sendo extremamente disputado, é finito, o que permite desde já perceber a importância dos protagonistas ‘caberem’ (sempre que possível) nesse mesmo espaço.

Houve então quinhentos actos de comunicação, onde até helicópteros mostravam o tanto verde aos jornalistas. “Qualquer técnico o faria”.

Uma das coisas mais positivas do Porto e do mandato de Fernando Gomes é a construção do Parque da Cidade que é filho do buraco do Bom Sucesso”, conclui Custódio Oliveira.

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