Friday, May 25, 2007

AULA 17: O SOUNDBITE EM PORTUGAL

O soundbite é uma forma de manipulação da opinião pública muito simples e eficaz. É um artifício político cada vez mais curto e eficaz, ganha uma dimensão incalculável tendo em conta as ideias-chave que pode vir a transmitir. Pode ser mais do que um slogan: “são frases curtas, repetíveis, que sintetizam o pensamento dos políticos e outros oradores dos tempos actuais. Não há qualquer problema em que os soundbites ou os slogans sejam criados por publicitários ou técnicos de Marketing desde que correspondam à síntese da política global ou sectorial que encapsulam".

O soundbite é então uma imagem sonora que é transmitida e que cria no imediato uma imagem visual no receptor. Se for apreendida, o resultado do soundbite é corado de sucesso, porquanto, conseguiu chamar a atenção dos jornalistas – veículo privilegiado para chegar às massas.
É aquele conjunto de palavras que fica no ouvido, anda de boca-em-boca.

Um exemplo mais recente de soundbite aqui em Portugal é a opinião de Pacheco Pereira acerca do debate do PS e do umaninismo do PSD, onde enaltece a dificuldade das relações entre os políticos e necessidade de modificarem a sua vida partidária adaptando-as ao mundo mediático. Vejamos:

Planície Heróica
Pacheco Pereira quer caçar com um cão [à] rasca!...
José Pacheco debruçou-se, no Público, sob o título “Debate do PS e unanimismo do PSD”. O comentador pode dar-se ao luxo de afirmar o que pensava, escrevendo antes de ser conhecido o resultado das eleições: “Penso que o debate que se trava no PS o reforça e que o unanimismo no PSD o enfraquece.”

A partir daqui, o autor explanou as várias razões que o levavam a proferir este pensamento. Afirmou a necessidade dos partidos modificarem a sua vida partidária adaptando-as ao mundo mediático. Alertou os seus leitores para a potencial perversidade deste meio quando sobreleva o espectáculo em detrimento da competência e do valor das ideias expressas: “ […] a selecção natural pelo espectáculo e não pelas qualidades individuais, e a notória capacidade de os media modernos substituírem o argumento, o Logos, pelo anedotário confrontacional e pelo soundbite.[…] numa fina linha entre a vantagem democrática e a necessidade comunicacional, por um lado, e a perversão demagógica e o populismo, por outro, que tudo se decide.”Referindo-se ao PS, mostrou-se agradado pelo debate interno suscitado pela eleição em curso apesar de alguma inicial relutância em o realizar.

Pacheco Pereira, no fundo, quer ver as opiniões assumidas e debatidas pelos seus autores e não pelas fontes anónimas. A eleição no PS foi apenas um pretexto para analisar a situação interna do PSD. Pacheco Pereira quer um debate de ideias, de políticas, no seu partido. Em seu entender, o PSD e o PS sairiam reforçados deste debate público.

Diz o analista: “No PSD vive-se um período muito diferente, de grande anomia partidária, e de um unanimismo esmagador. Tudo indica que este unanimismo se concentra no "aparelho" partidário (como no PS teria acontecido se o confronto de candidaturas não tivesse dissolvido o apoio maciço do "aparelho" a Sócrates), e é bem menor entre os militantes e os eleitores do partido. O peso deste unanimismo não é de agora, dado que a tradição de debate no PSD é diferente, em parte porque há uma cultura de autoridade interna que coexiste com uma tradição de rebelião, hoje já muito enfraquecida. Este enfraquecimento, que fez desaparecer (e não mais aparecer) grupos como a Nova Esperança, acompanhou a perda progressiva das qualidades basistas do PSD, durante a direcção de Cavaco Silva, acentuando-se com Fernando Nogueira, Barroso e Santana Lopes. O processo não foi linear e houve momentos em que o debate emergiu com toda a força, como quando Barroso confrontou Nogueira no Coliseu, talvez o último momento de "popularização" da vida partidária, levada aos portugueses em geral. No entanto, quase todos os dirigentes de topo do PSD, em particular Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso e Santana Lopes, actuaram de forma organizada e pública em oposição às lideranças do partido. Cavaco Silva fez o mesmo num passado mais longínquo.

A conspiração, a fonte anónima, a intriga, acabam por ser aceites como naturais e pululam em recados nos jornais, como se vê em cada edição do "Expresso", ou nos jornais de recados, como pouco mais são o actual "Semanário" ou o "Diabo". A característica deste tipo de actuação é que pouco tem de político e por isso não interessa a ninguém, a não ser a um pequeno grupo de iniciados, eles próprios produtores e consumidores.

Cria-se no partido uma cultura claustrofóbica, em que se acha natural a fuga de informação, a opinião anónima, o "recado", e se ataca a opinião com nome e cara. Um exemplo típico dessa atitude é o comunicado da Comissão Política Permanente do PSD-Porto contra Marcelo Rebelo de Sousa, queixando-se da "crescente agressividade e despropositada animosidade que semanalmente expressa relativamente ao partido, seus dirigentes e militantes", e as "críticas injustas e desproporcionadas" que tem "sucessivamente emitido acerca da personalidade e desempenho dos membros do Governo", em particular Santana Lopes. Esta atitude é errada (…).

Seria por isso positivo, inclusive face a um novo Congresso, que o partido abrisse um debate franco nas suas fileiras, nos seus meios de comunicação, nas suas páginas electrónicas, sobre matérias tão cruciais para o seu futuro como sejam a política de coligação com o PP, os aspectos da governação, a estrutura organizativa, o futuro da JSD e TSD, a modernização do seu Programa e dos Estatutos, sem que tal debate se faça, logo à cabeça, associado a listas, delegados, moções e lideranças.”

A vida política em Portugal anda pelas ruas da amargura. Questione-se, sob o efeito de um qualquer ‘soro da verdade’, a razão que leva um cidadão a tornar-se militante de um partido.

Erraríamos muito se concluíssemos que uma larga maioria destes cidadãos persegue interesses pessoais? Seríamos injustos se afirmássemos que a sua argumentação pouco passaria de lugares comuns e de coscuvilhices desinteressantes? Não. Globalmente não seríamos injustos…Podem ter-se discutido estratégias políticas, podem ter-se discutido linhas políticas mas, basicamente, os militantes avaliaram qual dos candidatos seria mais permeável aos seus interesses e qual seria um potencial primeiro-ministro. Sócrates deu mais garantias nesse aspecto aos militantes. Não definiu qualquer política de alianças e, a avaliar pelos seus apoiantes, não atacará os baronetes instalados. Haverá ‘fartar de vilanagem’.

E este é um erro básico de Pacheco Pereira. Ninguém está, dentro dos partidos, interessado em discutir nada. Nos partidos quer-se paz, concórdia e… tachos! "A perda progressiva das qualidades basistas do PSD”, como diz o autor, não se deve à liderança deste ou daquele líder. Deve-se ao exercício do poder nos moldes em que ele se faz no nosso país.

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