Podemos então resumir todo o ambiente de um spin à arte de manipular, pois inventam histórias para desviarem atenções, enganam o adversário e criam manobras de diversão. Não contactam directamente com os jornalistas evidenciando-se pela discrição. Escolhem ainda parte da realidade para servir determinados interesses, ameaçando. Alimentam ‘oportunamente’ a Comunicação Social, isto é, mentem, jogam sujo. ISTO É MANIPULAÇÃO ILEGÍTIMA.
Friday, May 25, 2007
Podemos então resumir todo o ambiente de um spin à arte de manipular, pois inventam histórias para desviarem atenções, enganam o adversário e criam manobras de diversão. Não contactam directamente com os jornalistas evidenciando-se pela discrição. Escolhem ainda parte da realidade para servir determinados interesses, ameaçando. Alimentam ‘oportunamente’ a Comunicação Social, isto é, mentem, jogam sujo. ISTO É MANIPULAÇÃO ILEGÍTIMA.
Manuel Maria Carrilho acusou alguns órgãos de Comunicação SociaL de exercerem um “poder opaco” e “impune”. Na apresentação do livro ‘Sob o Signo da Verdade’, o ex-candidato socialista à Câmara de Lisboa apontou o dedo à Imprensa, acusando-a de ter “substituído a verdade pela mentira intencional”.
Mas será que os media decidem as eleições? (…) A vida política modificou-se, passando a figurar primeiro que políticos e eleitores, jornalistas, institutos de sondagens, conselheiros políticos (spin-doctors) e agências de comunicação.Os media não estão sozinhos, nem constituem o único elemento a influir no comportamento dos eleitores nem na política. Mostrar os limites dos media não equivale a negar a sua força, mas apenas a considerá-la variável, já que certas eleições foram ganhas contra os interesses hegemónicos na comunicação social (Berlusconi, em Itália, por exemplo), por isso dizer-se que "não é a imprensa quem decide o voto dos cidadãos”.
José Carlos Abrantes, provedor do DN, também se manifesta sobre a credibilidade do jornalismo, proferindo que a mais importante será o poder das agências de comunicação. Diz que “os políticos são ostracizados pela comunicação social, se a mensagem destes é deformada e se estes têm ou não possibilidades de reagir a eventuais excessos ou "atropelos" cometidos pelos jornalistas.”
É necessário então que a Entidade Reguladora da Comunicação Social faça uma investigação aprofundada sobre as relações das agências com media os jornais e os jornalistas. O jornalismo, para ser credível, precisa de voltar a ganhar autonomia e credibilidade, a sua matriz de nascença. Ou será que prefere ir, lentamente, cavando a sua própria sepultura? É esta problemática que vai aumentando a cada dia com os casos como o de Manuel Maria Carrilho e o seu Sob o Signo da Verdade e a falta de mais agências de comunicação intervenientes.
O filme Boris foi dirigido por Roger Spottiswoode e, mostra em 98 minutos, uma virada estratégica de três marqueteiros americanos que conseguem a impensável reeleição de Boris Yeltsin, em 1996, nas presidenciais russas.
1. Slogans como “Mantenha a Rússia em segurança” (eram mostradas imagens dos massacres bolcheviques de 1917 sobre o povo russo) e “Votem no Ieltsin para bem dos vossos filhos” (cartaz colocado em frente a ex-combatentes depois destes tentarem vender as suas medalhas).
2. O facto de darem a entender que Zyuganov, candidato da oposição, queria regressar aos tempos da Idade Média e perseguir os reformistas e estagnar a economia.
3.“Pelotões da Verdade", isto é apoiantes de Yeltsin que iam aos comícios do adversário com o intuito de o vaiar.
4. Sabotagem das sondagens e publicação de uma alteração no jornal, isto para mostrar que Boris Ieltsin não estava atrás de Zyuganov com 20 pontos mas sim com um avanço de três em relação ao adversário.
Pode dizer-se então que uma candidatura política manifesta especial atenção por projectar na praça pública os defeitos e pontos fracos do seu adversário, substituindo a tradicional entrega de propaganda pelo recurso às novas tecnologias.
A partir do momento em que a Comunicação Social aborda a temática de um rumor já está a dar importância ao que não deveria ter. O espaço público mantém-se: ‘Se aparece na televisão é porque existe’. Assim, o conselheiro político, que procura ser discreto e eficaz, tem de decidir pela temporização da resposta, na medida em que o simples rumor começa a ganhar outras proporções, devido à emancipação da Internet, instrumento que facilitou a difusão de rumores.
O que está a explodir é a variedade de informação disponível na Internet: informação em bruto, sem filtragens e censuras. O veículo mais comum para a disseminação de notícias e opinião são os blogues, em proliferação massiva. Existem blogues de todas as tendências políticas possíveis. E se antes costumavam estar limitados a um pequeno grupo de pessoas que sentia a necessidade de apresentar as suas opiniões a um grupo que partilhava interesses semelhantes, hoje falamos de “blogosfera”. O termo foi cunhado em 1999 por Brad L. Graham, um especialista em comunicação ligado ao teatro, de St. Louis, em jeito de anedota, mas agora está referenciado na enciclopédia da Internet, a Wikipedia. Recentemente, a blogosfera foi reconhecida, embora relutantemente, pela imprensa como uma força real no espaço público.A emergência da blogosfera representa uma verdadeira mudança na dinâmica da gestão de informação, que já não se limita a uma elite de reconhecidos canais de media, estando disseminada por cada vez mais pessoas. De certa forma, pode mesmo afirmar-se que a informação está cada vez mais democratizada (o que é bom ou mau, dependendo do ponto de vista).
As eleições presidenciais no México, por exemplo, foram mais um caso de campanha negativa on-line onde "a Internet divulga agressividades pois está repleta de conotações negativas, críticas e ataques".
Já no Brasil, nas últimas eleições presidenciais(cortar), "a Internet teve um papel especial na divulgação de campanhas negativas", assim como no caso Leão Esperança em que circula on-line um e-mail cuja mensagem tem causado transtornos à própria televisão nacional: "Se a Rede Globo tem o poder de fazer chegar a mensagem dela a tantos milhões de televisores, também nós temos o poder de fazer chegar a nossa mensagem a milhões de computadores!"
“Crianças que têm pais fumadores vão para o céu mais cedo”.
Este é o slogan da campanha de impacto criada pela agência Serviceplan para a fundação alemã Kindergesundheit (Saúde da Criança, em português) e lançada na Internet. O público-alvo desta campanha, que começou a ser veiculada em Outubro de 2006, são os pais que fumam. O primeiro anúncio mostra uma auréola de fumaça de cigarro como uma ameaça sobre a cabeça do menino. A outra peça da campanha mostra os riscos de fumar durante a gravidez.
De acordo com estudos realizados pela Kindersundheit, fumar na gravidez causa má-formação fetal, distúrbios de crescimento e morte prematura".
Ou mesmo na Espanha, onde a infancia nem sempre é um conto de fadas:
Este é o conceito da campanha contra as várias formas de abuso infantil feita pela agência Contrapunto de Barcelona para a organização não governamental Save The Children da Espanha, que é ligada à Unicef. Nas peças de media impressa, as histórias para crianças como Branca de Neve e os Sete Anões e Alice no País das Maravilhas se transformaram em Branca de Neve e as Sete Bruxas e Alice no País dos Pesadelos. O objectivo é recrutar mais voluntários para o trabalho da ong".
Podemos então concluir que o fenómeno de canais de televisão pela Internet está a crescer, embora o blogueiro não possa aquilatar da qualidade, quantidade e sustentabilidade económica, cultural e informativa dos mesmos. Isto é, a Internet está a crescer e a aumentar a “audiência” já que mostra tudo o que todos desejam ver, inclusive todas as campanhas, essencialmente as negativas, pois são o resultado do chamamento de muitas pessoas. Na minha opinião, a Internet pode a estar a tirar ênfase à televisão já que é um meio visto a qualquer hora por qualquer pessoa que possa ter acesso a meios como o computador, o telemóvel, etc.A principal diferença está no facto de na televisão, rádio e jornais a propaganda ou lançamento das notícias ser em determinados momentos, o que está na Internet basta clicar ao instante que quiser sendo ainda privilegiado com as actualizações, daí a Internet potenciar muito mais as campanhas negativas.
Wednesday, May 23, 2007
Os pseudo-acontecimentos baseiam-se em algo artificial, numa (falsa) realidade criada por alguém que tem aí o seu interesse. São o grau máximo de sofisticação que os protagonistas têm para que os jornalistas lhes prestem atenção. Há uma realidade construída onde os factos são inventados, não são reais; isto em função de criar notícias positivas com valor mediático.Tal como defende Estrela Serrano no livro “As Presidências Abertas de Mário Soares”: os pseudo-acontecimentos “não são espontâneos; surgem porque foram planeados sendo o seu sucesso medido pela amplitude da sua cobertura (...)”.
Um exemplo bem expressivo é o caso do Parque da Cidade do Porto.
A polémica transforma-se assim em duas debilidades: “a cidade do cimento e a obra cuja licença não existia. Isto a um ano e meio das eleições”, continua Custódio Oliveira.
Entretanto, a estratégia mudava. O Presidente da Câmara deixou de falar no assunto do momento e começou a mostrar mais interesse no contrário, em não compor a cidade de cimento, falando no Parque da Cidade e na auto-estrada que era suposto passar no meio do Parque. Houve então desvio de atenções, estratégia de comunicação.
O próprio assessor de imprensa do presidente da Câmara na altura clarifica “decide-se apostar forte no Parque da Cidade”, havendo mesmo reunião com arquitectos famosos, entre os quais Siza Vieira que ajudam no assunto. As decisões começam a aparecer: a avenida não passaria pelo meio do Parque e este não seria construído em frente ao mar devido à existência das muitas casa. Esta era já a Ideia do Verde, a ocupação do espaço mediático.
Ocupar o espaço mediático pressupõe ter importância, ter notoriedade e algo para dizer. É ter um discurso envolvido, ser ‘visível’… para poder cativar o jornalista! Isto porque o espaço mediático, sendo extremamente disputado, é finito, o que permite desde já perceber a importância dos protagonistas ‘caberem’ (sempre que possível) nesse mesmo espaço.
Houve então quinhentos actos de comunicação, onde até helicópteros mostravam o tanto verde aos jornalistas. “Qualquer técnico o faria”.
“Uma das coisas mais positivas do Porto e do mandato de Fernando Gomes é a construção do Parque da Cidade que é filho do buraco do Bom Sucesso”, conclui Custódio Oliveira.
1. O Governo, o seu programa e a RTP
Augusto M. Seabra (14/05/2002)
«A relação da comunicação social com Santana Lopes faz lembrar a relação da madrasta cavernícola e autoritária com o enteado – depois de o sovar, quando o miúdo se apresta num vago queixume, grita-lhe: e se choras apanhas mais! Não há nada a fazer – primeiro sovam-no em todos os tons e sons; depois quando ele menciona os agravos, é sovado por “se estar a vitimizar”. Vem isto a propósito de uma jornalista do Público, Eunice Lourenço, que eu já citei mais que uma vez, pelas suas notícias absolutamente destituídas de rigor e ética, ter escrito ontem (em co-autoria com a colega Helena Pereira) um artigo em que afirmava peremptoriamente que “Cavaco aposta na maioria absoluta de Sócrates”.
Não vou discutir quais as intenções destas “notícias”. Santana Lopes está impedido de se queixar – qualquer queixa dele não passa de vitimização. Cavaco Silva está impedido de desmentir – qualquer desmentido dele é apenas mais uma mentira para disfarçar o seu “incómodo”. Não há pois nada a fazer quando a nossa comunicação social cria um “facto político”. Mesmo que não exista ... é um “facto político”!»
5. O FÓRUM SOCIAL PORTUGUÊS
Publicado na Visão em 12 de Junho de 2003
Thursday, May 17, 2007
Ideias-Chave: Muito engenho para expandir os restaurantes. Ao mesmo tempo, Vítor Gomes continua a apoiar outras causas locais como a criação de um centro onde ajudará os toxicodependentes a tratarem o seu vício. Continuará igualmente com os apoios nas colectividades da região.
Público-alvo: Toda a população de Bragança, principalmente os jovens, que verão no empresário um exemplo, não esquecendo todos aqueles que o acusaram de andar metido em maus vícios consequindo daí o dinheiro.
Meios de divulgação: Folhetos distribuídos nos principais locais da cidade inclusive nos seus próprios restaurantes de fast-food, nos jornais e rádio locais e em out-doors de patrocínios afixados no campo do Grupo Desportivo de Bragança e nas festas da aldeia.
Não há notícias sem fontes. Mas há jornalistas que, ao invés de irem atrás das notícias, deixam que sejam as notícias a "irem" atrás de si. Essa evolução do jornalismo, que hoje se pratica, é motivo de fundadas inquietações."
Também instituições como universidades, empresas privadas e públicas, associações voluntárias, etc., procuram profissionais com experiência em jornalismo para colocarem notícias favoráveis”.
Uma das mais antigas técnicas adoptadas pelos jornalistas para assegurarem ao público a fiabilidade do seu trabalho é fornecer-lhe as fontes das informações. Quando esta é claramente identificada o público pode decidir por si próprio se a informação é credível.
Joe Lelyveld, editor executivo do New York Times, citado por Bill Kovach e Tom Rosenstiel, afirma que “antes de usar fontes anónimas um jornalista deve colocar, a si próprio, duas questões:
1. Se a fonte anónima tem conhecimento directo do acontecimento sobre o qual fala;
Só depois de se considerar satisfeito com as respostas, o jornalista deverá usar a fonte. Contudo, deverá provar aos leitores que a fonte conhece o assunto ("viu o documento"), explicando, ainda, as razões do anonimato”.
Por sua vez, a jornalista Deborah Howel, citada no mesmo livro, aconselha o cumprimento de duas outras regras sobre as fontes anónimas, que reforçam as defendidas pelo seu colega Lelyveld:
1. “Nunca usar uma fonte não identificada para fornecer uma opinião de outra pessoa;
Com tudo isto, podemos concluir que os jornalistas, na maioria das vezes, baseiam-se no que lhes dizem as fontes, algumas delas pouco fidedignas. Tal como reconhece o jornalista Lorenzo Gomis, "as fontes a que os jornalistas recorrem ou que procuram os jornalistas são fontes interessadas, quer dizer, estão implicadas e desenvolvem a sua actividade a partir de estratégias e de tácticas bem determinadas. E se há notícias isso deve-se, em grande medida, ao facto de haver quem esteja interessado em que certos factos sejam tornados públicos".
O verdadeiro problema não é se o jornalista mantém a confiança nas fontes, é sim se os leitores mantêm ou perdem a confiança no jornal ou qualquer outro órgão de comunicação.
Quando acaba esta promiscuidade entre jornalistas e propagandistas?
A propósito, José Mário Costa relata (via Clube dos Jornalistas):
Também Miguel Sousa Tavares lembrava no Expresso, num texto intitulado “Jornalismo, modo de vida”: “No passado, insurgi-me várias vezes e publicamente contra o facto de haver supostos ‘jornalistas’ que eram simultaneamente articulistas de opinião. Mas esta absoluta promiscuidade chegou a receber o apoio da classe, com o próprio Sindicato dos Jornalistas a propor que se equiparassem os profissionais das agências a jornalistas, com carteira profissional e tudo”.
«A nova proposta de lei do Estatuto dos Jornalistas prevê aquilo que designa por um período de carência de seis meses, em que [o ex-jornalista e ex-assessor] não poderá trabalhar na esfera editorial da sua actividade anterior. É pouco tempo (um ano, no mínimo), mas é um (bom) princípio. Uma reserva de seis meses continua a ser, no fundo, um convite à serventia política dos ditos “jornalistas”», continua Francisco Rui Cádima no contexto que a incompatibilidade deve ser permanente.
Não é aceitável que um jornalista seja profissional de marketing político ou propagandista e no dia seguinte regresse à redacção como se nada fosse… De facto, se não for colocada uma forte reserva ao regresso ao jornalismo desses servidores de gabinete, o “quarto poder” pouco mais será do que isso.
“O exercício da profissão de jornalista é incompatível com o desempenho de funções de marketing como Relações Públicas, assessoria de imprensa e consultoria em comunicação ou imagem, bem como o de planificação, orientação e execução de estratégias comerciais (…). Findo o período de seis meses, se exercer a sua actividade em áreas editoriais relacionadas com a função que desempenhou, como tais reconhecidas pelo conselho de redacção do órgão de comunicação social para que trabalhe ou que colabore.”(Art 3º - nº 1-b e nº6).
Podemos voltar a citar o exemplo do jornalista Miguel Braga que suspendeu funções na TVI para assessorar o ex-Ministro do Ambiente, José Nobre Guedes. Com a saída do governante, o filho do fadista João Braga regressou ao canal de Queluz, com a particularidade de passar a desempenhar funções completamente opostas com as matérias que lidava enquanto assessor. Miguel Braga é, hoje, um dos jornalistas do departamento desportivo da TVI!
Deixo no ar, uma vez mais, a questão: será justo poder sair do Jornalismo para se inserir nas áreas de Relações Públicas ou Publicidade e voltar a exercer a antiga profissão com tão poucas restrições? Isto mesmo sabendo-se que, à partida, um ex-jornalista, depois de passar por outras áreas poderá estar mais “inturmado” em todos os assuntos e as fontes de informação lá fora serão outras e mais intensas devido às relações coexistentes. A minha opinião é que não, pois existem outros jornalistas capazes de ocupar os cargos deixados inicialmente nas redacções pelos que quiseram “experimentar” outras áreas, o que faz com quem fica não devesse ser mero substituto durante, por exemplo os seis meses de período de nojo aplicados, e fosse sim o futuro da informação não se ficando pelos seus “cinco minutos de fama”.
“Os grandes pecados dos media nacionais são o comodismo, a desatenção, o respeitinho pelo poder, o alheamento da sua tarefa histórica de watch dog”, disse Miguel Sousa Tavares no livro “O Pecado mora aqui”.
Os atentados causaram pelo menos 192 mortos e 2050 feridos. De imediato, o governo espanhol atribuiu a autoria dos delitos à ETA baseando-se na prova que os explosivos eram os mesmos que a organização terrorista espanhola usava. Mas, como no futuro se viria provar, a ETA não tinha capacidade logística para executar um atentado daquele género, e também elementos ligados à organização reagiram dizendo a uma televisão vasca: ”a organização ETA não tem nenhuma responsabilidade sobre os atentados de ontem”. Ao mesmo tempo, os analistas políticos encontraram características comuns a outros atentados levados a cabo pela Al Qaeda.
No dia dos incidentes, da parte da tarde, foi encontrada, na região de Madrid, uma fita com cassete de orações em árabe numa carrinha com detonadores. Tudo começava a encaixar-se para o ataque ter sido efectuado pela AL Qaeda e só o governo espanhol mantinha a tese que tinha sido a ETA.
“Não há provas. Mas o facto é que pode ter sido a ETA. Como pode ter sido a Al Qaeda. Podia ser uma organização ou outra, porque qualquer uma delas era capaz de ter feito o que se fez. A questão é que faz uma grande diferença, uma tremenda diferença para muita gente, se os autores do atentado em Atocha foram uns árabes de Bin Laden ou uns europeus branquinhos e louros do País Basco”, Sérgio Figueiredo, Jornal de Negócios, 12 de Março 2004
Então, na noite anterior às eleições, milhares de pessoas reuniram-se em cidades de todo o país em frente a sedes do Partido Popular, do presidente do governo espanhol, José Maria Aznar, exigindo transparência nas investigações sobre os responsáveis pelos atentados. Os manifestantes disseram que o governo mentira quando apontou o grupo terrorista basco ETA como responsável pelo 11 de Março. A própria imprensa espanhola denunciou a tentativa frustrada de Aznar influenciar os jornais do país. O governo Aznar havia entrado na guerra do Iraque contra a vontade de mais de 90% da população espanhola, ao lado dos Estados Unidos e do Reino Unido, e o atentado poderia ser uma resposta a este posicionamento. Ou seja, se a culpabilidade fosse realmente da Al Qaeda quem beneficiaria seriam os socialistas do PSOE.
No dia das eleições, 14 de Março, houve um comparecimento massivo às urnas, mais de 75% da população foi votar, todos com o mesmo argumento perante a tragédia: é necessário oferecer uma resposta democrática. Assim, o conservador Partido Popular de José Maria Aznar sofreu com a mão pesada do povo espanhol por ter mentido acerca dos atentados e por ser um peão nas mãos do presidente George W. Bush, enquanto José Luís Rodríguez Zapatero ganhava as eleições num evento único na história política espanhola, isto devido à sua promessa de, em caso de vitória, retirar as tropas espanholas do terreno iraquiano.
E assim foi, o favorito Aznar até as 7h39m do dia 11 de Março, quando explodiram as primeiras bombas no comboio da Estação de Atocha, viu o partido PP entrar na onda de comoção e indignação nacional causada pelo massacre transformar-se numa enxurrada de votos para o seu rival Zapatero e os socialistas, que voltavam ao poder após oito anos afastados do Palácio de La Moncloa. Para os analistas políticos, o apoio do governo à invasão do Iraque pelos EUA em 2002 e a tentativa de enganar o povo espanhol atribuindo os atentados de 11 de Março à ETA foram os factores decisivos na derrota do PP.
Podemos concluir que nunca se deve colocar em causa a seriedade de um povo e, ao mesmo tempo, nunca tentar encobrir uma coisa que mais cedo ou mais tarde se vai constatar. No caso, José Maria Aznar deveria ter assumido o erro de início e não ter “tapado o buraco” com a mostragem de mais um habitual atentado da organização ETA. É óbvio que o Primeiro-Ministro do PP fez mal em optar por esta estratégia, pois além da derrota, ainda demonstrou descredibilidade perante os espanhóis.
Regra essencial da Comunicação de Crise: “Nunca mentir, pois a verdade vem sempre ao de cima!”